Entrevista com Angelo Mokutan


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HEY galeraIM entrevistaÉ POSSÍVEL SER MANGAKA NO JAPÃO SENDO BRASILEIRO?Angelo MokutanPresident Next - Revista onde Angelo Mokutan trabalhaENTREVISTA BBC BRASIL COM ANGELO MOKUTANbbc_brasil angelo mokutan mangaka japão

A ENTREVISTA:

IM: Por também ter o sonho de ser mangaká e já ter pesquisado muito sobre o assunto, sabemos que não é tão fácil ir para o Japão e conseguir um visto para morar aí quando não se possui descendência. Como foi o caminho pelo qual você percorreu desde o Brasil, quando você decidiu seguir esse sonho, até chegar ao Japão e conseguir uma estadia permanente aí? Incluindo o visto de trabalho, que é uma das partes que mais levanta dúvidas para os aspirantes à mangaká do Brasil.

 

Angelo: Depois de três anos tentando, consegui a bolsa do Monbusho para fazer mestrado em cinema de animação. Vim para o Japão então em 2006 com visto de estudante.

Respondendo a uma dúvida comum: consegui visto de dependente para a minha esposa. Deixo registrado que agora ela trabalha e tem seu próprio visto, e assim evito problemas em casa 🙂

Eu me dediquei ao mestrado, e quis tentar entrar no doutorado, o que não deu certo por vários motivos. Por isso comecei a procurar trabalho depois de terminar o mestrado, então tive o visto de atividades especiais. Dica: não fazer o mesmo, porque ter que arrumar emprego é um processo demorado no Japão, e eu ainda tive que fazer isso urgente no meio da crise econômica do Lehman Shock. Super tenso, no sentido ruim. Arrume emprego enquanto estiver na uni.

Consegui emprego numa empresa japonesa de TI, o que me deu o visto de trabalho na área de humanas. Trabalhei lá por cinco anos como professor de inglês e informática, assistente de contador, produtor de eventos, cortador oficial de bolos de aniversário entre outras coisas. Nas horas vagas eu continuei produzindo mangá.

No meu último ano na empresa comecei a conseguir renda com o mangá e decidi que era a hora de arriscar viver disso. Saí da empresa, pedi o visto de artista e consegui obtê-lo, mas só sete meses depois! É um visto difícil, não recomendo apostar todas as fichas nele.

 

nota: ainda não tenho o visto permanente, mas pretendo tirá-lo quando eu estiver qualificado.

 

Angelo

 

IM: Pelas outras entrevistas sabemos que você através de uma feira conseguiu contato com um editor que te chamou pra fazer parte dessa revista, e por estas mesmas entrevistas sabemos que o salário não é tão bom quanto muita gente imagina. Com relação a prazo, flexibilidade/liberdade criativa e relacionamento com editores, como é sua rotina de trabalho?

 

Angelo: Atualmente trabalho com três editores. Um para mangá e os outros dois para um livro infantil que estou ilustrando.

O pessoal é flexível quanto a criatividade inicial, mas muito exigente quanto à qualidade do acabamento. É comum mandarem refazer desenhos várias vezes até ficar bom.

Quanto a prazos eu faço questão de ser pontual, então não sei dizer se eles são flexíveis. É óbvio que tenho que me organizar bem e ter disciplina para dar conta do volume de trabalho. Às vezes preciso virar a noite trabalhando, mas acho que é um ritmo natural para quem ama o que faz.

Ter uma boa relação com editores é fundamental. É melhor não aceitar qualquer trabalho que apareça só para fazer portfólio, se o editor não for bom, ou se não houver empatia. É o que tenho feito e tem dado bons resultados.

 

Village Vanguard Aobadai

 

IM: Você conseguiu atingir um feito muito grandioso, que é o sonho de milhares de jovens hoje no Brasil. Quais são seus planos e objetivos daqui pra frente? Pensa em tentar uma série em alguma editora mais conhecida, ou mesmo continuar na editora que está por estar mais perto do estilo que você gosta de trabalhar?

 

Angelo: Pretendo continuar publicando na President Next, porque estou começando uma série sobre o Zen Budismo. Eu acho importante trabalhar com temas filosóficos e culturais, por isso quero aproveitar ao máximo essa oportunidade. Por exemplo publicando essa série em inglês na net.

Publicações em português vão depender dos leitores brasileiros, portanto quero propor alguns projetos trabalhando direto com eles, através de crowdfunding como o site Catarse, no segundo semestre.

Meu estilo de trabalho é mais artístico, então não me vejo publicando em grandes editoras no momento.

 

Lançamento de Angelo na President Next

 

IM: A maioria dos jovens brasileiros que hoje sonham se tornarem mangakás, desejam  entrar pra uma grande revista/editora, qual a sua opinião, visão e experiência com relação a esse mercado e principalmente a entrada de estrangeiros nele?

 

Angelo: A competição é acirrada, como todos sabem. Para nós não-japoneses há ainda as barreiras do idioma e da cultura. Sendo realista, é preciso estratégia, não se pode ser “só mais um” desenhista de mangá. Minha experiência trabalhando numa empresa japonesa me ajudou muito a entender qual o diferencial que eu podia apresentar.

Aos poucos estão aparecendo mangakás não-japoneses bem sucedidos. Hokuo-joshi é um bom exemplo. Porém ainda é um mercado fechado. Eu sugiro pensar em outras vias para se publicar no Japão, não só a tradicional com grandes editoras. A internet está aí, e por exemplo o Daytripper de Gabriel Bá e Fábio Moon é conhecido aqui por quem gosta de hq não japonesa.

Resumindo, é preciso qualidade (sem exagero), estratégia, persistência e um pouco de sorte.

Angelo Mokutan e sua assistentefanpage no facebookCLICAR AQUIAngelo worksChapeuzinho Vermelho em TokyoAQUIAMAZONchapeuzinho vermelho by Angelo MokutanAté mais galera!

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